Começou 2025 e quem achou que a Torta de Climão tinha acabado se enganou redondamente! Não que ela não tenha passado por muitos perrengues, mas eu Ainda Estou Aqui! Afinal, a vida presta e o meu querido editor pediu para a colunista aqui pensar com carinho sobre a coluna.
Pois, entre o ano passado e este muita coisa mudou e a Torta de Climão agora é Amazônica. Escrevo de uma das cidades mais dentro da floresta que eu já conheci, e ao mesmo tempo mais “longe” da floresta já vivi. Numa área que demonstra claramente como a construção das cidades Amazônicas se deu tanto a ferro e fogo, que praticamente nada aqui olha ou é adaptado à floresta e aos rios.
Se fala tanto em preservar a Amazônia, deixar ela em pé, mas pouco se pensa nos seus jardineiros, nas pessoas que aqui vivem. O debate sobre crise climática passa a tantos quilômetros daqui que precisaríamos gastar muita gasolina para ir até lá, e é esta dependência do petróleo que demonstra também como esta indústria já se impôs também por aqui. Ainda que o posto de gasolina mais próximo que tenha da minha casa seja este:
Como podem ver, pelo menos, o frentista é simpático. Mas um litro de gasolina pode custar entre 9 a 20 reais. Já vi todo tipo de valor. E, apesar de simpático ele não quis fazer nenhuma promoção, acreditam?
Pois, as mudanças climáticas já impactam esta área ainda que nela sobrevivam alguns milhões de quilômetros floresta amplamente preservados. No ano passado a seca foi severa e provocou muito sofrimento. Até um barco no qual eu estava quase encalhou. Vivi esta seca no mesmo ano em que vivi a pior enchente da história na minha terra natal, Porto Alegre. Parecia que a natureza queria mesmo esfregar as mudanças climáticas na minha cara, e conseguiu.
De norte a sul do Brasil. Fotos tiradas num intervalo de menos de menos de quatro meses.
Mas viver na Amazônia faz a gente perceber que existe uma dependência direta da gasolina, especialmente para para os barcos que são o principal transporte de uma região com mais de 10 milhões de quilômetros quadrados, onde os rios são a estrada. Há uma lógica perversa da floresta x petróleo, que demonstra o quanto ainda é necessário mudar para que se preserve de verdade o planeta e que, enquanto o funcionamento da sociedade for assim, esta guerra está perdida.
Esta lógica é tão perversa que inclui todo o ciclo da indústria, pois vai até o plástico e seus resíduos. Aqui me sinto numa viagem no tempo, de volta aos anos 90 vendo um grande lixão crescer em meio às árvores enquanto só tem um jeito de jogar as coisas fora, tudo numa mesma lata. No fim da tarde o cheiro de plástico queimado toma conta do ar, pois as pessoas continuam queimando o lixo mesmo como se ele fosse todo orgânico.
Mas o que me desespera mais, além da falta de opção que me leva inevitavelmente a contribuir com a destruição da floresta, ainda que eu não queira, é a falta total de consciência de quem mora aqui sobre isso. As cidades são nota menos três em saneamento básico, e ninguém parece preocupado com isso. Só a rede SUS que vive lotada de pessoas doentes por causa de doenças relacionadas a falta de tratamento da água. Todo dia tem alguém mal ou doente por causas relacionadas a falta de esgoto, em especial as crianças. São muitos mais para esta conta que saiu durante a semana mostrando que mais 300 mil pessoas já foram internadas por isso: (https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2025-03/falta-de-saneamento-provocou-mais-de-340-mil-internacoes-em-2024)
Uma coisa fica clara nesta parte do país: tudo isso é parte de um projeto político que acredita em um tipo de desenvolvimento antigo, numa economia da dependência, que gera concentração de renda e que acha que espalhar cimento resolve qualquer coisa. Sem planejamento urbano algum e que, infelizmente, em nada mudou em mais de cem anos.
Enquanto isso os parisisenes votam para que as suas ruas voltem a ser florestas… (https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2025/03/parisienses-votam-neste-domingo-se-querem-criacao-de-500-ruas-jardins.shtml) Não é incrível ver as cidades do dito mundo evoluído querendo voltar a ser floresta, e as pessoas da floresta votando para que ela vire cimento. Quem sabe isso muda, antes que seja tarde demais.
Por enquanto seguimos aqui na expectativa, de volta, Matheus.
Com Carinho, direto da Amazônia,
Gabi