Avanço do desmatamento é economicamente prejudicial para a própria agricultura local, diz estudo
Estudo realizado por pesquisadores da UFMG, publicado na revista Nature, afirma que quando o desmatamento na Amazônia atinge um certo limite, o regime de chuvas sofre alterações que ameaçam o sistema agrícola local.
De acordo com os pesquisadores, a perda de floresta avança de tal modo na região, que gera uma redução no volume anual de chuvas e um impacto negativo no desempenho das plantações locais.
O estudo analisou, via satélite, a zona Sul da Amazônia brasileira – onde é produzida uma parte importante da soja e da carne bovina do país – e foi investigada a relação entre as chuvas anuais e a perda de floresta nessa localidade, de 1999 a 2019, quantitativamente.
Com base nesse cruzamento de dados, foram determinados os “limites críticos” para a perda de florestas locais, ou seja, qual a porcentagem de desmatamento a partir da qual o ganho de área de plantio fica economicamente nulo – devido à queda de desempenho agrícola causada pela diminuição das chuvas.
Estudos anteriores estimavam que esse limite estava entre 30% e 50%. A descoberta dos pesquisadores da UFMG, porém, é considerada um avanço porque estabelece esse índice (“limite crítico”) considerando diferentes escalas geográficas.
Por exemplo, ao analisar terras de 28m quadrados (independentemente do entorno que as cerca), a pesquisa afirma que a quantidade de chuva diminui abruptamente quando a derrubada da cobertura vegetal ultrapassa 58% do território. Este seria o “limite crítico” de desmatamento para cada área dessa mesma dimensão.
Entretanto, conforme os pesquisadores aumentaram a escala geográfica das áreas analisadas, considerando a influência recíproca entre as terras de 28m quadrados e as regiões que as cercam, o limite (a partir do qual o desmatamento gera a queda no regime de chuvas) foi gradativamente reduzido. Dessa forma, o “limite crítico” pode chegar a ser “qualquer” desmatamento, se considerada uma região maior que 224 quilômetros quadrados.
Os pesquisadores concluíram que os desmatamentos localizados, mesmo que elevem momentaneamente a quantidade de chuva, provocam menor precipitação geral, gerando uma perda que, na prática, supera os ganhos locais que cada produtor tem com o aumento da sua área disponível para atividade agrícola.
Segundo o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), em 2020 houve uma perda de floresta de 11.000 km2 – 143% a mais em relação a 2012, quando foi registrada a menor taxa de desmatamento. No Sul da Amazônia a derrubada de florestas já chega a 30% do território. No caso de ausência de políticas efetivas contra o desmatamento, essa mesma região pode perder até 56% de sua cobertura vegetal até 2050.
Quanto mais desmatamento, menos chuvas – o que diminui os lucros da produção agrícola.
Texto: Pedro Braga