Fervura no Clima e uma ilustração de turbina eólica.

#FervuraNoClima

INSPIRAÇÃO PARA ENFRENTAR O AQUECIMENTO GLOBAL

Fervura no Clima e uma ilustração de usina termelétrica sendo desativada.

O Relógio
do Clima!
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O crime climático e a hora da resiliência

Los Angeles queima e São Paulo alaga enquanto a população urge pelo urbanismo climático
L.A. fires, the Conversation, Creative Commons

Pedro Henrique de Christo

 

Os ventos de Santa Ana acariciavam o meu rosto num sábado de outono de 2010. Estava em Los Angeles e havia acabado de terminar pesquisa de campo de uma semana sobre o impacto do Consent Decree (decreto de consentimento) da Suprema Corte dos EUA sobre a polícia de Los Angles (LAPD) que obrigou a polícia local a melhorar procedimentos, aumentar sua diversidade e respeitar os direitos humanos após o covarde assassinato policial de Rodney King, que gerou revolta histórica na cidade. Participava de um projeto de pesquisa sobre segurança pública, resiliência e urbanismo da universidade de Harvard representando um dos meus melhores professores, Christopher Stone, hoje em Oxford. 

Havia acontecido de tudo durante essa semana, fui tradutor de espanhol, conheci lideranças comunitárias em East LA que recuperavam jovens, principalmente latinos e negros, egressos do sistema prisional, treinei jiu-jitsu com os policiais da LAPD para ganhar sua confiança e passei a semana ouvindo que o mais importante era fortalecer a resiliência das comunidades em parceria com o estado e setor privado contra crimes e riscos variados evitando assim tragédias futuras. 

A pesquisa foi impactante, ajudou a demonstrar o sucesso do decreto de consentimento nos EUA e foi esta que trouxe para o Brasil da experiência Angelina as câmeras policiais e a obrigação de rondas terem que ser feitas em duplas, o Teams II, para sempre haverem testemunhas, e aprendi bastante. Estava feliz com o sentimento de dever cumprido e por chegar em Malibu para surfar com amigos de San Diego, onde havia morado, que haviam subido a Interstate 405, aka San Diego Freeway, para me buscarem em West LA e aproveitar o final de semana comigo. Antes de cair na água, ao mesmo tempo que olhava aquelas valas maravilhosas, verdadeiras paredes onduladas e lisas do Pacífico, mulheres lindas e gente feliz não conseguia parar de pensar em como desenvolver a resiliência aos crimes e riscos das comunidades era muito mais fácil ali do que em East LA. Isso foi antes da crise climática, onde ninguém escapa, sejam ricos ou pobres.  

Grid de Los Angeles, L.A. Fires, USC, Creative Commons

Agora no meio do inverno de 2025, vemos incêndios hollywoodianos devastarem mais de 40 mil acres (162 km2) em Los Angeles, Malibu incluída, forçando mais de 200 mil pessoas a evacuarem as mais de 12.000 estruturas, casas, escolas, hospitais e comércios que foram queimadas ao pó. Mostrando para o mundo que nem a maior cidade da Califórnia, estado mais rico do planeta, que equivale ao 5o maior PIB global, está pronta para enfrentar os impactos da crise climática, ou melhor, do Crime Climático. Antes de qualquer coisa é essencial dar nome aos bois. E esse ditado não é à toa, a primeira letra do alfabeto grego, alpha, vem de aleph ou eleph, que significa boi em fenício e hebreu. Palavras importam, ou como está no Evangelho segundo João no capítulo 1, versículo 1, “No princípio era o Verbo”. 

O quentinho “aquecimento global”, criado por empresas de publicidade e marketing ligadas ao partido republicano e indústria fóssil, mais parece branding de propaganda de final de ano. Felizmente, hoje a maior parte dos grandes jornais já chamam o que há de crise climática, e plataformas de vanguarda como este Fervura no Clima, pioneiramente de Fervura Global, termo assimilado pelo Secretário-geral da ONU, Antônio Guterres. Semana passada no The Guardian, Tezporah Berman, criadora do Fossil Fuel Non-proliferation Treaty, uma das iniciativas mais importantes pela descarbonização global, explica no artigo “Los Angeles is on fire and big oil are the arsonists” (Los Angeles está pegando fogo e a indústria do petróleo são os incendiários), que o que vivemos é um dano premeditado. 

Berman traz a tona mais uma vez que primeiramente a Exxon em pesquisa desenvolvida pelos seus próprios cientistas, e depois toda indústria do petróleo já sabiam há 50 anos que continuar produzindo e queimando petróleo, gás e carvão aumentaria a temperatura global em torno de 0,2 C por década, cálculo extremamente próximo do que observamos, gerando impactos terríveis no planeta e humanidade. 

O que fizeram os magnatas do Big Oil, como a indústria do petróleo/fóssil é conhecida? Ao invés de investir em outras fontes que gerassem energia limpa esconderam a verdade silenciando os seus próprios cientistas, compraram e amarraram pelo cabresto muitos outros pesquisadores com gordas linhas de pesquisa focadas em paliativos que nunca seriam capazes de resolver o problema, fizeram e fazem de tudo para abafar a comunidade científica séria, sua maior parte, lideranças e ativistas, com desinformação e os atuais greenwashing, sportswashing e culture washing. Assim como também aumentam as evidências da contratação por estas de hackers para obtenção de dados privados de lideranças climáticas.

E, principalmente, colocaram o lobby e corrupção em prática em escala global com políticos interessados apenas no próprio bolso em troca de subsídios imorais, que aumentaram 345% na última década justamente quando observamos recentemente em 2023 que a energia solar recebe mais investimentos privados, USD 323 bi, do que o petróleo (Alisson, G). Toda essa sanha ocorre por parte da indústria fóssil sem gerar nenhuma riqueza para os países em questão. Como observamos na prevalência da doença da vaca holandesa nos principais países produtores de petróleo e o recente aporte de USD 445 mi da indústria fóssil na campanha do atual presidente americano, o radical da indústria fóssil e negacionista climático Donald Trump. Este que mais parece o monarca francês Louis XV antes da revolução francesa com o seu “Après moi, le déluge“, ou seja, “depois de mim, a enchente”, como se o mundo só importasse enquanto ele e seus asseclas estiverem vivos.

A COP Amazônida

O crime organizado chegou a tanto que dominaram em grande medida a hoje altamente questionada Conferência das Partes sobre o Clima da ONU, a COP. 

A qual receberemos aqui no Brasil de forma decisiva neste ano de 2025 em Belém, PA, na Amazônia, em sua 30a edição com a esperança de corrigir seus caminhos com o primeiro presidente da conferência em 4 anos que não foi indicado pela indústria do petróleo. O altamente competente diplomata André Corrêa do Lago, liderança na luta pelo clima desde a criação do Protocolo de Kyoto em 1997.

Enchente no metrô de São Paulo, janeiro de 2025, Sou Enfermagem, Creative Commons

Crime é aquilo que (1) entre ação ou omissão constitua ofensa que possa ser processada pelo estado e é punível pela lei; ou (2) ação ou atividade que, mesmo que não ilegal, é considerada como malévola, vergonhosa, ou errada. Em termos resumidos, crime é uma ofensa confirmada de um dano premeditado. Daí ser imperativo chamar o que vivemos de Crime Climático, ainda mais porque esse crime gerou e continua a piorar a maior crise existencial da história da humanidade. 

Precisamos parar o petróleo e preparar nossas cidades para sobreviver enquanto regeneramos o meio ambiente de maneira complementar, pois só plantar árvores não adianta de mais nada. Só temos chance de superar a crise climática se fizermos essas três ações ao mesmo tempo e em todos os lugares.

No futuro quando olharmos para trás, concluíremos que vivemos um ponto de virada desde 2023 para cá quando os eventos extremos chegaram de vez nas nossas cidades e tomaram escalas nunca vistas nas florestas e no campo. Em 2024, enquanto vimos o limite de aumento da temperatura de 1,5C comparado a era pré-industrial ser evaporado, assistimos aqui no Brasil o Rio Grande do Sul ser destroçado pela catástrofe das chuvas que tiveram seu impacto multiplicado ao encontrarem territórios despreparados pelo negacionismo de suas lideranças (isso após sofrer a maior seca do planeta em 2023). Na segunda metade do ano ardemos em fogo na Amazônia, Cerrado, oeste da região SE e norte da região Sul, resultando na destruição de uma área do tamanho da Inglaterra. 

E agora vemos Los Angeles, um dos maiores ícones do país mais poderoso do planeta, os EUA, e São Paulo, a cidade mais rica da América Latina, ficarem de joelhos no começo de 2025, a primeira devido ao fogo e a segunda a chuvas que chegaram a alagar estações de metrô trazendo memórias das cenas que vivi em New York com o furacão Sandy em 2012. 

L.A. Fires, Pedro Szekely, Creative Commons

Em L.A. a crise climática faz o sul da Califórnia passar por uma mega-seca desde 1999, tornando todas as estações épocas de incêndios, com cada vez mais intensas ondas de calor num alinhamento perfeito de fatores para um desastre como o que vemos. Os ventos agradáveis de Santa Ana ficaram super carregados, superando os 100km/h; e a topografia do S da CA e do N do México cria túneis de vento do litoral para o topo de suas elevações montanhosas, muito parecida com Valparaíso no Chile, criando condições anabolizadas para espalhar os focos de incêndios.

Some-se a isso mais um erro humano que se manifesta nos resultados não previstos de uma terraformação, processo de transformação do solo, ar e ambiente por meio de intervenção humana, que trouxe água do norte da Califórnia para tornar na marra uma área de deserto em verde (o que pode ser observado assistindo ao grande filme Chinatown, com Jack Nicholson, ou simplesmente atravessando a fronteira de San Diego para Tijuana), junto a crescente volatilidade hidroclimática devido a crise climática na região que faz acontecer a citada mega-seca e comprime chuvas intensas em períodos mais curtos. O calor sem chuvas estendido faz com que a biomassa em excesso ao ambiente original fique seca e pronta para queima. Para fazer as coisas piores, agora após os incêndios, outros riscos emergem tais como deslizamentos, aumentados devido a destruição de vegetação nativa e suas raízes que seguram o solo, e a terrível contaminação da água, solo e ar por substâncias tóxicas advindas dos materiais queimados.

Não foi necessariamente o adensamento urbano, que é bom por diminuir emissões, podendo ter o espaço construído preparado para ser resiliente, e sim o uso predominante de madeira nas habitações junto ao obsoleto desenho urbano e de território paisagem do século 20 da cidade, a errônea terraformação citada, que contribuíram para a catástrofe. Los Angeles era literalmente um desastre esperando acontecer, como infelizmente o é pelas por razões similares Valparaíso no Chile e a Cidade do Cabo na África do Sul, e também o são São Paulo e outras cidades pelo mundo só que devido a outra ponta da volatilidade hidroclimática, fortes chuvas e enchentes.  

Valparaíso fires, Chile, Global Giving, Creative Commons

Como vimos na última sexta-feira, 24 de Janeiro, uma série de erros históricos na capital paulista que tampou rios e várzeas com concreto e asfalto e produziu uma deficiência de espaços públicos verdes num incompetente desenho urbano sem drenagem, também um tipo de terraformação, junto ao crime climático geraram cenas dignas de filmes apocalípticos. O Beco do Batman, famoso ponto turístico na zona oeste, parecia um rio durante uma tromba d’água, pessoas se seguravam a barras de ferro do corrimão do metrô na linha azul que liga norte e sul para não serem arrastadas e na estação central da Sé dezenas de milhares de pessoas se entupiam enquanto esperavam o retorno do funcionamento dos metrôs sem saber a que horas poderiam voltar para suas casas. De maneira surreal, o prefeito Ricardo Nunes declarou prontamente que não havia o que se fazer para se antecipar e se preparar contra uma chuva daquelas. 

O que fazer?

Claro que há, primeiro, existe tecnologia de modelagem de alta precisão em digital twins (gêmeos digitais) para predizer como enchentes, deslizamentos e outros riscos climáticos vão se comportar chamada 4D (3D: x, y, z; e t-tempo), criada pela start-up brasileira-americana 4DMDT-4 Dimensional Modeling and Design Technologies, e assim se antecipar com as medidas necessárias. E segundo, o nome da solução que traz essas medidas necessárias é o Urbanismo Climático. Uma estratégia urbana desenvolvida a partir do Urbanismo Social em Medellín junto com práticas efetivas de sustentabilidade e resiliência urbana criadas por urbanistas líderes na equipe dos 3 mandatos do prefeito Michael Bloomberg em NYC e designers urbanos advindos de Harvard e MIT junto com a comunidade do Vidigal no Rio de Janeiro. 

Em Los Angeles logo após os incêndios fotos de algumas casas que haviam sobrevivido ilesas pipocaram no Reddit junto com o conceito de arquitetura passiva, um péssimo nome para uma boa ideia. “Arquitetura Passiva” é basicamente uma arquitetura resiliente para evitar os gatilhos que fazem as casas pegar fogo e um envelope quase a vácuo com materiais altamente eficientes para ser econômica no uso de energia, resiliente e sustentável. Seu design faz uso de muros de jardins com concreto pré-moldado que cercam jardins com vegetação adaptativa e esparsa enquanto evita calhas para não acumularem brasas e tem telhados de metal revestido com cobertura resiliente e volume liso para não prender as mesmas brasas, este apresenta ainda janelas vedadas triplamente ou com insulação a vácuo entre outras coisas. 

Essa casas são compactas e sem adornos com muros que aguentam 1 hora de fogo, vidro temperado em todas as suas janelas e portas e com sua fachada construída de madeira tratada no calor que é blindada à faíscas e brasas com a aplicação de muros e linhas de proteção em seu teto. Como notado por Kriston Capps no site da Bloomberg, frente aos elogios os arquitetos dessas habitações foram rápidos em corretamente dizer que por mais que novos códigos de construção e técnicas arquitetônicas sejam fundamentais, mais importante do que o design resiliente das casas é o desenho urbano e do território paisagem resiliente entre as casas e entre a malha urbana e a área florestal. 

Essas técnicas junto com desenho urbano e de território paisagem evitam que incêndios florestais se tornem urbanos como este em Los Angeles que se soma aos grandes incêndios históricos de Lisboa após o terremoto de 1755, o de São Francisco também na Califórnia que se seguiu ao terremoto de 1906 e do de Edo, atual Tóquio, em 1657 que destruiu 70% da cidade. Se não pararmos o petróleo e prepararmos nossas cidades com o Urbanismo Climático, incêndios como estes serão cada vez mais recorrentes, assim como as enchentes vistas em São Paulo e no Rio Grande do Sul e que já começaram intensas nesse 2025 pelo Brasil no ES, MG, PE, SC e outros estados.

Ricardo Stuckert, PR (Presidência), Creative Commons

 

Desenho urbano e de território paisagem são chave

 

Entretanto, alguém pode perguntar o que você quer dizer com esse “desenho urbano e de território paisagem” no caso de LA ou do RS e SP? No de LA, curiosamente ninguém falou na grande mídia americana e brasileira sobre a principal medida para evitar os incêndios que é aumentar a umidade do solo e assim da vegetação, biomassa, e ar evitando os incêndios florestais e urbanos como aprendi trabalhando em Valparaíso com meu amigo, Claudio Magrini, italiano radicado no Chile, professor da UDP-Universidad Diego Portales e um dos principais especialistas de arquitetura de território paisagem na América Latina. 

Chuvas extremas e enchentes

E com as chuvas extremas como no RS e São Paulo? Com parques alagáveis e estruturas híbridas, verdes e de materiais duros, espalhadas pela cidade no que virou convenção chamar de cidade esponja, capazes de controlar toda essa água em grande medida. 

Fardo duplo: secas e enchentes relâmpago

E se na sua cidade ocorrem secas e quando chove, cai toda água de uma vez gerando alagamentos, como no caso de Cabrobó no Vale do Rio São Francisco em PE, e em breve de São Paulo, L.A. e grande parte das cidades pelo mundo devido a volatilidade climática? 

Aí você faz o redesenho urbano com estruturas multifuncionais de resiliência para não só absorver a água como uma esponja, mas também se faz a distribuição de uma rede de água de estruturas duras ao redor de parques alagáveis e outras áreas e estruturas azuis para armazenar o excesso d’água que, associadas a estruturas geradoras de energia limpa, “espremem” essa esponja. Trazendo a água para a parte superior do solo e superfície nas épocas de secas evitando incêndios e melhorando o ambiente para nós humanos e a biodiversidade existente. Ou seja, os três casos pedem uma terraformação consciente que fortaleça a natureza, o que é um dos pilares do Urbanismo Climático.

O mundo precisa urgentemente de uma grande transformação urbana, estrutural e territorial onde sejam aplicadas estratégias de urbanismo climático capazes de integrar antecipação (modelagem 4D), resiliência (adaptação) e energia limpa (mitigação) com regeneração ambiental e inclusão social, econômica e espacial. 

Nenhum lugar é mais seguro. Alguns meses atrás o furacão Helene destruiu várias cidades na parte oeste da Carolina do Norte nos EUA, área até então considerada um refúgio climático; o Pacífico Noroeste americano também era considerado um desses refúgios até o domo de calor de 2021; assim como o Havaí até os terríveis incêndios de Maui em 2023. Como bem colocou em artigo no New York Times o cientista climático Peter Kalmus, “para aqueles que perderam tudo nos desastres climáticos, o apocalipse já chegou.

“Precisamos criar mecanismos para fazer com que a indústria do petróleo pare de usar sua riqueza para controlar nossos políticos e destruir a viabilidade de nossas vidas no planeta.”

Como todos já sabemos, com o planeta continuando a ferver, os extremos climáticos ficam cada vez mais fortes, espalhados e intensos, o que vai causar cada vez mais situações como os incêndios de L.A. e as chuvas do Rio Grande do Sul e São Paulo. Os problemas mais evidentes são as vidas perdidas e os danos estruturais, mas pode-se ter certeza que esse caos climático será seguido pela desestruturação de setores econômicos importantíssimos como os de seguros e habitação, por exemplo. Já se sabe também que existe uma correlação estatisticamente significante entre o aumento da temperatura e homicídios assim como outras ocorrências violentas (American Journal of Public Health), com a crescente escassez de água e outras consequências, logicamente teremos o gradual colapso sistêmico de nossas estruturas, sociedades e economias. O que virá se não agirmos nos antecipando e preparando será um colapso civilizacional maior do que o da Idade do Bronze.

Precisamos criar mecanismos para fazer com que a indústria do petróleo pare de usar sua riqueza para controlar nossos políticos e destruir a viabilidade de nossas vidas no planeta. Para isso, um dos primeiros passos é acabar com a narrativa falsa de que a crise climática é responsabilidade de todos nós. Não, ela é responsabilidade da indústria fóssil, da classe política e de seus cúmplices – não nossa como o ambientalismo neoliberal derrotista adora dizer. 

Subsequentemente, é urgente fazer com que a indústria fósssil pague pela construção da resiliência e reconstrução de nossas cidades e estruturas devido aos crescentes eventos climáticos extremos e promover a litigação climática como uma ferramenta essencial na urgente transição climática. O exemplo inspirador é o Ato de Superfundo de Mudanças Climáticas (CCSA – Climate Change Superfund Act) recentemente assinado em lei por Kathy Hochul, governador do estado de New York em 26 de Dezembro de 2024. Esta é uma peça de legislação histórica que avançará significativamente os esforços de ação climática em New York para preparar suas cidades e proteger e restaurar o seu meio ambiente, e requisita que grandes empresas fósseis paguem pelos projetos críticos para proteger os nova-iorquinos.

Estado de bem-estar climático do século 21

  

Precisamos desenvolver um estado de bem-estar social climático do século 21 tropicalizando e melhorando o que está sendo feito na Suécia e sintetizando práticas de adaptação, mitigação e regeneração que encontramos na Holanda e nas tropicais Costa Rica e Cingapura. É preciso acordar para o fato que “não se pode ter uma economia sem uma sociedade, e uma sociedade precisa de algum lugar para viver” como bem apontou Sandy Trust, líder do reporte Planetary Solvency do IFoA – Institute and Faculty of Actuaries. De novo, é a hora da resiliência para sobreviver o tempo que necessitamos para fazer a transição energética e regenerar o meio ambiente. E isso o é porque acima de tudo precisamos cuidar das pessoas.

Muitas coisas precisam ser bem e rapidamente feitas para reverter o curso autodestrutivo estabelecido por essa nova oligarquia global representada por Trump, a indústria fóssil e seus Tech Oligarchs, que ao invés de desenvolverem mega usinas solares abraçaram completamente a indústria fóssil para alimentar de energia os seus data centers na corrida da IA e que têm seu núcleo duro na PayPal Mafia. Grupo de fundadores e ex-executivos da citada empresa de pagamentos online altamente vinculado ao regime do apartheid na África do Sul que faz parte da linha de frente de apoio a Trump mais próxima a ele. 

Esse grupo é epitomizado pelo homem mais rico do planeta, Elon Musk, que de maneira chocante, fez duas saudações nazistas no dia da posse presidencial americana, e Peter Thiel, que cresceu durante a década de 1970 numa cidade de colônia alemã conhecida pela exaltação  pública de Hitler, mesmo nessa época, na atual Namíbia chamada de Swakopmund e que segundo sua biografia, defende que mulheres não votem e que o apartheid era bom economicamente. 

Ambos, juntos com os tech oligarchs americanos, que acabaram de tomar uma bela pancada da empresa chinesa de IA DeepSeek, perdendo USD 1 tri há alguns dias, querem realizar seu assalto ao controle de nossa existência sem restrições algumas, respeito as leis e todo o privilégio corrupto que lhes proteja de qualquer competição. Tudo isso sem nem ao menos nenhuma noblesse oblige, obrigação de virtudes que os robber barons americanos tinham que demonstrar, tais como a construção de parques, escolas, hospitais e o mínimo de respeito a democracia e direitos humanos durante a Gilded Age

Mesmo que os custos sejam altos e muitos poderosos tenham que ser enfrentados com a ordem das coisas sendo alterada, vale lembrar o ditado romano de que “Deixe a justiça ser feita mesmo que os céus caiam” (Fiat justitia ruat caelum“). É verdade, essa é uma ordem alta mas a coisa fala por si mesma até porque os céus já estão caindo por causa do Crime Climático. Ou enfrentamos o que é necessário ou pereceremos como civilização e espécie. Precisaremos fazer trabalhos hercúleos do Alpha ao Ômega das coisas e se temos de começar dando nome aos bois, com o Alpha, é bom saber que terminaremos com a Ômega, que significa “a/o grande”, vitória.

 

(texto atualizado em 3 de fevereiro de 2025)

Pedro Henrique de Christo (urbanista climático, notório saber, fundador do estúdio interdisciplinar +D de Arquitetura & Urbanismo, criador do primeiro Modelo 4D de simulação de cenários climáticos urbanos, professor visitante de desenho urbano no URBAM-Eafit Medellín, presidente do NAVE – Novo Acordo Verde, Dir. do Parque Sitiê e Mestre em Políticas Públicas – MPP’11 em Harvard);

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