Já fiz campanha para ajudar a preservar uma reserva de mata incrível chamada Juréia. Ganhei um prêmio com essa campanha, e o troféu é uma arvorezinha que está na estante do meu quarto, me lembrando que, todos os dias, muitas arvorezinhas queimam a céu aberto.
Já passei 10 dias no rio Negro sem celular, sem internet, e lá entendi quanto a Amazônia é um mistério para muitos brasileiros.
Já andei mais de mil quilômetros para ir até a Chapada dos Guimarães de carro – haja gasolina – e vi o cerrado virar soja transgênica, bem debaixo do meu nariz míope.
Já nadei em mar brasileiro sem plástico, hoje não nado mais.
Em 2020, minhas viagens foram por aqui, no baixo carbono do meu computador. A cada manhã naveguei por um novo Brasil, esse país com um talento imenso para arrasar milhões de boas intenções, mas que também faz brotar poetas incríveis, como esse que compôs os versos:
“O Brasil não conhece o Brazil. O Brasil nunca foi ao Brazil.
Do Brasil S.O.S ao Brasil”.
Esse poeta se chama Aldir Blanc e ele foi embora um dia desses. Mas espero que suas palavras sirvam como sinal de fumaça para nós.
Simone Az é colunista do Fervura. Escreve contos, poemas e tem um romance prontíssimo para sair do forno.
Foto: Lalo de Almeida, na reserva do Rio Iriri, Pará
