Fervura no Clima e uma ilustração de turbina eólica.

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Fervura no Clima e uma ilustração de usina termelétrica sendo desativada.

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Petro, não petróleo

Presidente colombiano se torna principal liderança do Clima em meio a COP do escárnio

Carros pipas levam embora a sujeira do edifício Burj Khalifa em Dubai, o mais alto do mundo, cujo saneamento não funciona

 

Pedro Henrique de Cristo

A principal causa da Crise Climática, a maior crise existencial para a humanidade, são os combustíveis fósseis que emitem CO2 respondendo por 76% dos GHGs – Gases de Efeito Estufa, metano, (CH4), que vem principalmente da agricultura (16%) e óxido nitroso, N2O, que tem a maior parte de sua origem na indústria e agricultura (6%). Os demais 2% são compostos de gases tais quais perfluorcarbonos HFC e PFC, e SF6 (hexafluoreto sulfúrico) que também vêm da agricultura e indústria (NASA, 2023). 

A ciência não é complicada. Nossa atmosfera tem 17km de altura do seu pé para o espaço sideral. Queimar energia morta e jogar parte dela na forma de gases sujos nesse pequeno mas sagrado lençol, pois garante nossas vidas, gera uma grande fervura principalmente com o efeito estufa de contenção de calor dos raios vindos do sol pelo lixo de energia morta. Com recordes de temperatura e eventos climáticos extremos se amontoando de maneira cada vez mais rápida e intensa, o reconhecimento por parte dos principais cientistas do clima no mundo hoje, como o brasileiro Paulo Artaxo, líder do Brasil no IPCC-ONU, é de que o limite até o ano passado apocalíptico de 2-2.7C já será nossa realidade mesmo que façamos tudo certo a partir de agora. Aquele de 1.5C já era depois de 2023. E que precisamos agir ainda mais rápido pois consequências não previstas como a diminuição da produção de fotossíntese pelas plantas na Amazônia está ocorrendo cada vez mais devido ao impacto do aumento da temperatura em enzimas essenciais para o processo. 

Vivendo, por nossa causa, o ano mais quente em 125 mil anos, desde que podemos medir, e sofrendo a conta que já chegou, não dá mais para se posicionar como liderança do clima, ou até mesmo ativista, sem encarar o nosso maior problema, os combustíveis fósseis. Que deixa eu te falar uma coisa, além de nos matar não faz mais nem sentido econômico. A energia solar já é mais barata e recebe mais investimentos privados do que os fósseis como apontou meu ora coordenador e professor no Belfer Center for Science and International Affairs de Harvard, Graham Allison em artigo no Financial Times intitulado, “É solar o novo petróleo?”. Outro fator importante contra o petróleo é que na esmagadora maioria dos casos o mesmo não gera a riqueza prometida para as cidades e estados afetados como também traz graves impactos para sua população, vejam só o caso de Coari, AM. Fica a dica para muitos bons jornalistas completamente equivocados no aspecto econômico da questão energética se informarem melhor pois tem sido triste de assistir e escutar até nossos melhores programas jornalísticos.   

A COP 28 em Dubai, não poderia ser mais incoerente do que está sendo pois a realidade sempre supera a imaginação. O presidente da COP mais suja da história é simplesmente Ahmed Al Jaber, ou melhor, o “Sultão” Al Jaber, presidente da ADNOC – Empresa Nacional de Petróleo de Abu Dhabi. Tudo isso depois da década perdida em que iríamos fazer a transição energética global e o que vimos de 2010 à 2023 foi um aumento de 475% em subsídios para ineficiente indústria do petróleo (Allison, G; 2023) que ciente da proximidade do seu fim tenta de tudo para manter viciados os países em desenvolvimento da África e América Latina na sua droga energética com todo tipo de lobby, corrupção e outros meios que vão desde o greenwashing, passando pelo sportswashing e agora implodindo na opinião pública com o COPwashing.

O tal Sultão Al Jaber, em típica maneira autocrata-sultanata do petróleo que trata/compra jogadores de futebol como cavalos de corrida, ongs bem-intencionadas mas pobres de capital como propagandistas vendidos ao lado errado das coisas e bengalis, malaios, filipinos, tibetanos e outros como escravos, achou que havia comprado a COP 28, o que na sua cabeça e de seus pares continha também a ontologia, ou seja, a sua razão de ser: uma linha base da ciência global em que políticos, autocratas e o setor privado mal-intencionado não poderiam questionar e então discutir e decidir o que seja à partir dessa linha base. O mesmo realizou o grotesco desplante de dizer há alguns dias na própria COP 28 que “Não há prova científica de que é preciso sair dos combustíveis fósseis para manter a fervura global no limite de 1.5C” No me jodas, You’re fucking kidding me ou Tu te moques de moi? Como a gente xinga em hindu e chinês?? Como na década de 1950 quando a própria petroleira EXXON escondeu pesquisa que inegavelmente mostrava que os combustíveis fósseis causavam o efeito estufa e que os resultados de seu contínuo uso seriam catastróficos para a humanidade, Al Jaber tenta negar a ciência para lucrar ao custo de nossas vidas. 

Por conta do seu saneamento defeitoso, o Burj Khalifa é conhecido entre arquitetos como o prédio da merda 

 

O lado bom é que esse escárnio forçou uma reação dos cientistas e ativistas que foi imediata, mesmo muito limitada pelo ambiente controlado da COP pelo próprio grupo dos petro estados e empresas globais do petróleo, sendo corretamente denunciada na mídia internacional. O lado ruim é que deixou claro como essa COP é na verdade um balcão de negócios do grande inimigo da existência humana, a indústria fóssil, para entranhar essa matriz energética ultrapassada e que nos mata na infraestrutura de países pobres ou não ricos de capital como, Argentina, Angola, Brasil e Nigéria entre outros. É uma depravação total da razão de ser das COPs e um alerta imenso de que mudanças são urgentes agora para que não causemos as mortes de bilhões de pessoas para menos de 100-50 mil terem lucro às nossas custas. Como falam na minha terra, essa bagaça que são os fósseis não serve mais nem aos outros segmentos do capital, só aos “sultões do petróleo”, aí inclusos não só os dos petroestados árabes como também  americanos, ingleses, europeus, asiáticos e etc. 

Nesse contexto fica claro que não há como o Brasil querer se propor como líder climático global vacilando na questão dos fósseis e apostando tudo em apenas uma parte da trindade do clima, a regeneração ambiental, as demais são a citada transição energética e o urbanismo climático. É importantíssimo conseguir o desmatamento 0 na Amazônia até 2030, assim como em nossos outros biomas, mas qualquer coisa sem transição energética para superação dos fósseis não adianta de nada. Sim, sabemos que é complicado mas tem de ser feito pois a alternativa é a morte em massa, principalmente dos mais pobres nas próximas décadas. 

E entre todos nós, não precisava a gente aderir a OPEP+, grupo de apoio aos produtores do petróleo, no meio da orgia, para não dizer p******* do clima em Dubai, cidade símbolo de tudo que há de errado no capitalismo do carbono. A Petrobrás precisa deixar de ser uma empresa fóssil e virar uma empresa líder na produção de energia limpa, principalmente a solar, se aproveitando da rivalidade cooperativa entre os EUA e a China nesta questão ao se tornar um centro de compilação de partes de ambos países e fazer P&D (pesquisa e desenvolvimento) próprios. Querido presidente Lula, se os EUA e a China que brigam em tudo e em meio a uma grave crise por Taiwan concordam apenas em um intercâmbio maior de pandas para os zoológicos americanos e que é urgentemente preciso uma transição energética pela segurança nacional dos dois países e seus parceiros, como foi declarado em essencial e surpreendente reunião entre Biden e Xi na Califórnia pouco antes da COP 28, acredito que alguém inteligente como o Sr deva se despertar para isso.

 O maior fato positivo da atual COP 28 é a adesão do presidente Gustavo Petro da Colômbia ao Tratado de Não-proliferação de Combustíveis Fósseis criado pela jornalista Tezporah Berman. Esse é um fato histórico e posiciona, legitimamente, Petro como a principal liderança do clima hoje pois com essa decisão consciente e corajosa, a Colômbia se torna o primeiro país com uma economia de peso, grande população e que produz considerável quantidade de petróleo e carvão a assumir o, hoje, compromisso mais importante para a humanidade, a transição urgente para fontes de energia limpa e a consequente estabilização da fervura global. 

Esse lugar ainda pode ser recuperado por Lula, que apesar dos últimos erros, continua melhor posicionado que qualquer liderança no planeta no médio e longo prazo para ser o líder da superação da crise climática no século XXI devido à importância ambiental e geopolítica única do Brasil e necessidade de se juntar ação climática a justiça social, algo carente até nos círculos ambientalistas neoliberais que dominam as COPs. Só precisa fazer o principal e encarar o problema de frente. O mesmo vale para a Ministra Marina Silva e sua equipe, e principalmente para outros membros do governo como o presidente da Petrobras, Jean Paul-Prates e o jurássico ministro Alexandre Silveira das Minas e Energia, que parece que quer que a gente tenha o mesmo destino dos dinossauros. 

Nesse sentido é preciso também falar para os amigos ambientalistas tradicionais que mercado de crédito de carbono e ESG também são greenwashing., Todos sabemos que não funcionam em lugar nenhum do mundo, assim como para alguns dos amigos ativistas de que ir para COP para ter impacto necessita de mobilização e integração de pautas. Faltam protestos organizados, agendas unificadas e projetos com impactos reais de ambos os capitalistas e ativistas do clima. 

Não caiam na sujeira desta COP mesmo que o principal lugar de projeção de propaganda seja o Burj Khalifa, mais conhecido como o prédio da merda. Isso mesmo, pois apesar de ser o prédio mais alto do mundo o sistema de saneamento do mesmo não funciona devido a erros crassos de projeto e construção fazendo com que centenas de carros pipas tenham que coletar e jogar a sujeira do sultanato debaixo de um tapete bem longe deles gastando um monte de energia fóssil. Uma boa analogia para o que representa essa COP 28.  

Precisamos furar as bolhas do ambientalismo brasileiro, que ainda é elitista, e trazer todos da nossa sociedade para discussão e construção de soluções. Sim, há muita gente boa, mas só vocês não serão suficientes para fazer a mudança que precisamos e vocês sabem disso. Não podemos deixar acontecer uma eugenia do clima onde bilhões morrerão, principalmente nos nossos países na América Latina, África e Sul da Ásia, devido ao aumento exacerbado da temperatura e cada vez mais extremos eventos climáticos. Precisamos fazer melhor e precisamos fazer diferente, já. Mais lideranças como Petro, menos petróleo. 

 

P.s. Parabéns ao prefeito Edmilson Rodrigues (Psol) de Belém, PA, que ao completar os 100 prefeitos que aderiram ao Tratado de Não-proliferação de Combustíveis Fósseis se torna uma das principais lideranças climáticas urbanas globais;

P.s.1 Parabéns a secretária de cultura do estado do PA, Úrsula Vidal, e sua equivalente da prefeitura de Belém, Inês Silveira, que inovam integrando cultura e clima de forma diplomática e coerente assim possibilitando a construção de uma COP 30 melhor e mais democrática por parte do estado e município;

P.s.2 Parabéns para meu querido amigo e editor Matthew Shirts, co-fundador deste Fervura no Clima, que venceu nesta terça o Prêmio Jabuti para melhor livro de ciências pela sua excelente obra “Emergência Climática: O aquecimento global, o ativismo jovem e a luta por um mundo melhor”. Bravo.;

 

Pedro Henrique de Christo: urbanista climático, presidente do NAVE – Novo Acordo Verde e cofundador do Parque Sitiê na favela do Vidigal, Rio de Janeiro. É professor-visitante de políticas públicas, desenho urbano e arquitetura na Universidad Eafit-Urbam, em Medellín, tendo lecionado também na Harvard University, University of Cape Town, UDP-Universidad Diego Portales e FGV-RJ. Fundador do estúdio interdisciplinar +D, recipiente de múltiplos prêmios internacionais, e colunista da plataforma Fervura no Clima. Mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Harvard, onde sua tese inspirou a aula School of the Year 2030@Rio de Janeiro na Harvard Graduate School of Design, foi reconhecido oficialmente como notório saber (famosam scientiam) neste ano de 2023. Paraibano, nascido no Sertão e criado na praia da Zona da Mata, é baseado no Rio de Janeiro.

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