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#NãoOlheParaCima e a crise do clima

Fui ver #NãoOlheParaCima logo que entrou em cartaz, na minha segunda ida ao cinema desde o início da pandemia. Foi em um momento de calma, antes de influenza e ômicron (antes de Covid, eu ia com frequência). Diziam ser a primeira grande produção a tratar a crise do clima com propriedade dramática...

(Contém spoilers)

Fui ver #NãoOlheParaCima logo que entrou em cartaz, na minha segunda ida ao cinema desde o início da pandemia. Foi em um momento de calma, antes de influenza e ômicron (antes de Covid, eu ia com frequência). Diziam ser a primeira grande produção a tratar a crise do clima com propriedade dramática, um filme bom e pop sobre um assunto difícil. Impossível esperar chegar no streaming. Estão no filme um time de Hollywood de primeira divisão. Nós, ativistas do clima, esperamos por isso há décadas. Estava louco para ver se conseguiram fazer um filme de ficção interessante e popular, de grande alcance. E se era mesmo ótimo, como eu havia lido na imprensa climática gringa, qual foi o segredo do sucesso? 

O filme é sensacional, como você já deve saber. São muitos os segredos do sucesso, diria eu. Entre eles estão o de trocar a crise do clima por um cometa. Como explica o diretor, Adam McCay, “este filme nasceu do meu terror crescente com a crise do clima e o fato de viver em uma sociedade que a coloca como o quarto ou quinto assunto jornalístico, ou até, em alguns casos, chegam a negar que esteja acontecendo, o que é aterrorizante e ao mesmo tempo ridiculamente engraçado”.  A ideia de usar um cometa apareceu em uma conversa dedicada à falta de cobertura da mídia para o fenômeno mais importante da história com o coautor do argumento do filme, David Sirota. Conta McCay: “Comecei a falar com muitos cientistas [do clima]. Buscava boas notícias. Mas não as encontrava. Tudo era pior do que eu havia lido na grande imprensa. Falando com o jornalista David Sirota, nós dois estávamos assim, ‘é inacreditável a falta de cobertura, não há manchetes’. E Sirota disse, como quem não quer nada, ‘é como se um cometa estivesse para bater na Terra e acabar com tudo e ninguém liga o mínimo’. E daí respondi: ‘está aí, eis a ideia [do filme]’”.    

Trocar a crise do clima pela alegoria de um cometa a caminho da Terra funciona em diversos níveis. Fornece a urgência e, portanto, a tensão dramática necessária para um bom filme de desastre. Esta é uma premissa manjada, conhecida dos filmes hollywoodianos, o que facilita a vida de quem assiste. Se você colocar “comet movies” no Google encontrará listas de sete e oito filmes neste subgênero. Existe até uma placa de protesto bastante conhecida em manifestações de rua pelo clima que diz: ”Todo filme de desastre começa com alguém ignorando um cientista”.

Não é que a crise do clima não seja urgente. É, sim, e como. Temos poucos anos para trocar o carvão, gasolina e diesel pela energia renovável e preservar as florestas tropicais, sem falar de um bom naco dos oceanos. Estas são apenas algumas das medidas inadiáveis a serem tomadas contra o aquecimento global. Mas demora para explicar isso tudo, sem nem entrar na questão dos gases de efeito estufa. A ameaça de um cometa é mais imediata e definitiva do que os estragos anuais em câmera lenta provocados pelo aquecimento global. Estes já começaram, como se pode ver nas chuvas do sul da Bahia, para dar um único exemplo, e vão continuar a nos assolar, ano após ano, cada vez piores, até que se tomem as providências necessárias (ou não). Como o momento de impacto do cometa é perfeitamente previsível, o personagem de Jennifer  Lawrence, a astrônoma Kate Dibiaski, que descobriu o asteróide, consegue colocá-lo em um aplicativo de dieta, uma de muitas sacadas irônicas de #NãoOlheParaCima.  Quando o asteroide bate na Terra seu celular avisa: sua dieta acabou!

A troca da crise do clima pela cometa permite focar no alvo verdadeiro do filme – que é o negacionismo científico em suas múltiplas manifestações entre políticos, bilionários, e jornalistas. Isto acaba fazendo com que #NãoOlheParaCima seja relevante também à discussão de vacinas e #Covid19 e funciona ainda para tirar sarro do autoritarismo. Os paralelos entre o filme, que se inspira no governo Trump, com o atual governo federal do Brasil, capturaram a imaginação dos brasileiros. Interpretei isso como sinal da sua força dramática.

Um ponto menos comentado é que a grande imprensa é arrasada também pelo filme, através das cenas no “New York Herald” e no programa de TV, The Morning RIP. Os dois veículos falam de ciência em tempo real com muita dificuldade em #NãoOlhePraCima. Ao longo dos meus anos de ativismo climático encontrei editores com posturas muito semelhantes aos do filme. No mundo real, a cobertura de clima da grande imprensa vem melhorando, mas ainda está longe de ser da altura que a crise climática (o cometa, se existisse) merece. 

Saí do cinema encantado e cheio de ânimo. Segundo o meu caçula, Samuel, que viu comigo, fui eu quem mais deu risada no filme. Ele curtiu também a obra e ainda me explicou o significado na vida real dos atores mais jovens, entre os quais, Ariana Grande, Kid Cudi e Timothée Chalamat. Nas semanas seguintes, #NãoOlherParaCima quebraria diversos recordes. Com 152 milhões de horas de streaming foi o filme mais visto durante uma semana na história da #Netflix. Espero que isto enterra de uma vez a crença de #aquecimentoglobal não vende. #NãoOlheParaCima demonstra que o assunto tem imenso potencial para quem souber abordá-lo. Precisamos muito falar disso e cada vez mais. Sem discutir o assunto nunca vamos enfrentá-lo. A ajuda de Hollywood é muito bem vindo.

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