Está na hora de ganhar mais uma COP
Matthew Shirts
Esta era para ser uma COP (Convenção das Partes) especial. Após cinco anos do histórico acordo de Paris, em 2015 (e quase dois de pandemia), o regulamento pedia para cada país uma nova rodada de metas climáticas. A expectativa otimista previa que, depois de seis anos de chuvas torrenciais, ondas de calor, gelos derretidos, secas, incêndios sem precedentes, o período mais quente da história humana e um relatório particularmente duro dos cientistas da ONU dizendo com todas as letras que, sim, tudo foi gerado pelos gases de efeito estufa emitidos pelos carros, caminhões, usinas de carvão, desmatamento e bois; bem, esperava-se que os países tomassem providências e estabelecessem metas de reduções de gases condizentes com o tamanho da encrenca.
Mas não foi o que aconteceu. As metas nacionais anunciadas em Glasgow, somadas, ali mesmo no meio do evento, geram 2,4 graus de aquecimento – na melhor das hipóteses. Buscava-se 1,5ºC. Detalhe: já aquecemos 1,2ºC. Daí a frustração, quase um ataque de nervos.
Mas ainda há alguma esperança. Na COP 27, que acontecerá ano que vem em Sharm el-Sheikh, no Egito, espera-se uma nova rodada de metas nacionais de todos os países. É o reconhecimento do fracasso da Escócia e da necessidade de insistir no assunto com urgência. Outra esperança no ar é a participação crescente e barulhenta de indígenas, pretos, jovens e todo tipo de militante (muitos brasileiros entre eles), que foram para Glasgow botar a boca nos trombones. Por outro lado, a má notícia, nada surpreendente, foi a participação de mais de 500 representantes da indústria de petróleo, gás, carvão, petroquímicas, e big-agro, que participaram para garantir seu direito de poluir à vontade. É como se tivesse centenas de lobistas da indústria do cigarro em uma convenção sobre o câncer, ou fabricantes de filmes em um evento de fotografia digital.
Mas o melhor de tudo é que, aos poucos este assunto, o mais importante (e mais difícil, segundo Bill Gates, que estava lá) da nossa história, começa a ganhar o público leigo. A geral. É urgente que isto aconteça. Como mostra o grande jornalista George Monbiot no The Guardian, com 25% da população podemos virar este jogo (https://www.theguardian.com/commentisfree/2021/nov/14/cop26-last-hope-survival-climate-civil-disobedience) . A tecnologia para substituir gasolina, carvão e gás já existe e é bem melhor e, em muitos casos, mais barata que esses combustíveis antiquados. Basta convencer os poderosos a incentivar sua adoção. Daí o papel dos 25%. É preciso militar em casa também, seja onde for.
Sempre teremos Paris. E, no ano que vem, se Deus quiser, teremos Egito. Está na hora de ganhar mais uma COP.