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Fervura no Clima e uma ilustração de usina termelétrica sendo desativada.

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Série Fervura: a viagem de Greta Thunberg num planeta em crise

Por Simone Az :: Colagens Giovana Castro

Em junho de 2020 foi ao ar numa rádio sueca muito popular um programa com a Greta Thunberg contando sobre a viagem que fez de Estocolmo para os Estados Unidos e de lá para Davos. A Revista Time publicou esse relato na forma de diário em sua edição de Julho. É uma clássica roadtrip com muitos personagens, anedotas, desafios e perigos. Eu trago aqui a minha leitura desse diário. Uma espécie de Melhores Momentos que conta mais sobre essa garota que nem chegou aos 18 anos e já está revolucionando a discussão sobre o clima. São 12 capítulos de aventuras e propostas para o planeta.

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Capítulo 1 Sede da ONU. Greta vê sua cachorra Roxy e ela própria projetadas numa imensa tela. Ela morre de saudades da sua labradora. Hoje é 23 de setembro de 2019 e faz sete semanas que ela embarcou no trem em Estocolmo. Depois de 14 dias no mar, desce na ilha de Manhattan. Com ela as coisas têm sido surreais. Se a atenção da mídia já era grande na Europa, em Nova Iorque é gigantesca.

Eu me vejo em todo lugar, ela escreve em seu diário.

Na ONU, presidentes, primeiros ministros, reis e princesas querem tirar uma selfie com ela para depois postarem com a hashtag #salveoplaneta. Talvez isso os faça esquecer da vergonha que sentem ao perceber que estão destruindo o futuro das próximas gerações, ela pensa.

Quase todos os líderes do planeta estão sentados na plateia. Ela nunca esteve brava em público. Na verdade, nunca esteve brava nem em casa. Mas ali decidiu que seria contundente. Discursar na Assembleia da Nações Unidas é algo que provavelmente só vai acontecer uma vez na sua vida. É agora ou nunca. Deixa a emoção tomar conta e fala tudo o que precisa falar. No metrô de volta para casa percebe que muita gente assiste seu discurso nos celulares. Algumas pessoas a cumprimentam, alguém sugere: vamos celebrar! Mas ela entende que não há motivo para cumprimentos ou celebrações.

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Capítulo 2 Cena 1. Ela está parada em frente à praça de alimentação na Câmera dos Deputados dos Estados Unidos, em Washington. Na sua frente os maiores políticos do planeta vestem ternos de tecidos caríssimos e se esbaldam com milkshakes cor-de-rosa.

Ela acha que políticos são os mesmos em qualquer lugar do mundo.

Cena 2. 20 jovens ativistas climáticas estão no escritório de Nancy Pelosy, porta-voz da Câmera. No grupo estão representantes de vários povos indígenas. Na parede há um retrato de Abraham Lincoln. A atmosfera é estranha.

A jovem ativista Tokata Iron Eyes pede para falar. Ela vive em Pine Ridge, reserva indígena em Dakota do Sul, uma das comunidades mais pobres dos Estados Unidos.

“Como você acha que dá para sentarmos aqui nesta sala com aquele homem olhando para baixo?”, Tokata aponta para o quadro de Abraham Lincoln.

Pelosi explica que ele foi um grande homem e que significa muito para seu país.

“Ele queria meu povo morto”, diz a menina. Ela se referia à execução dos Dakota ordenada por Lincoln em 1862.

Como lutar por justiça climática, quando ainda não se reconhece as injustiças sociais e raciais? pensa Greta ao ouvir Tokata.

Cena 3. Greta fala no Congresso e se sente desconfortável. “Quem deveria ser ouvida é a ciência não eu”, diz ela.

Cena 4. Ela pega o metrô e anda por 45 minutos até o lugar onde está hospedada. No caminho vê casas que parecem mini castelos. Do lado de fora de uma dessas casas está uma mulher com sua filha, que tem uns cinco anos.

“É você?” a mãe pergunta, quando ela passa. “Posso tirar uma foto sua com a minha filha?”

“Claro”, ela responde.

Quando se vira para ir embora, ouve a mulher falando: “Greta é uma ativista climática. Quem sabe você não se torna uma quando crescer?”

O jeito que a mãe fala faz parecer que uma ativista do clima é uma coisa legal. Como se fosse uma mistura de bailarina, presidente e astronauta.

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Capítulo 3 O consenso entre os cientistas é esmagador: não há dúvidas sobre o Acordo de Paris e os relatórios do IPCC – Painel Intercontinental da Mudança Climática. Na capital francesa, governos de muitas nações se comprometeram a manter o aumento da temperatura global em “bem abaixo de 2°C”. Mas os cientistas enfatizam que 2°C não é seguro. É preciso limitar o aquecimento a 1,5 °C. Hoje já passamos de 1,2 °C. 1,5º nos dá uma chance de evitar reações em cadeia irreversíveis, além do controle humano. Mas por onde começamos? Se mantivermos as emissões de carbono nos padrões de hoje temos apenas 7,5 anos para manter o aquecimento em 1,5º C. Temos apenas 7,5 anos. É bom repetir isso. E, apesar de serem assustadores, Greta acha que esses números estão diluídos. Eles não incluem o aspecto global do Acordo de Paris, nem o aquecimento já escondido na poluição tóxica do ar. A maioria dos cenários também pressupõe que as gerações futuras serão capazes de sugar centenas de bilhões de toneladas de CO2 da atmosfera com tecnologias que não existem na escala necessária e que provavelmente nunca existirão a tempo.

Mesmo que não se entenda muito esses números e cenários, o que importa é ler as entrelinhas: a gente precisa fazer mudanças sem precedentes na história da humanidade.

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Capítulo 4

Greta tirou um ano sabático para poder viajar para Santiago, no Chile e participar da COP 25, a conferência anual do clima da ONU. Não tem ideia de como vai chegar lá, mas sabe que precisa estar em Los Angeles no dia 1 de novembro. Tem cinco semanas de viagens pela frente. O pai dela e ela deixam Manhattan e dirigem para o norte no carro elétrico que Arnold Schwarzenegger emprestou.

Viajam por lugares espetaculares.

Vêem as folhas da Nova Inglaterra, as florestas de Quebec, os lagos de Minnesota, os búfalos no Wyoming, as sequóias no Oregon, as formações rochosas no Arizona e os campos de algodão do Alabama.

No carro, alternam entre as estações de rádio. As ofertas são quase apenas pop e música country cristã.

Todas as sextas ela continua fazendo greve, não importa onde esteja. Em todos os lugares pessoas de várias idades aparecem para acompanhá-la.

Todos os dias acordam às 7 da manhã e dirigem até à noite. Compram comida onde dá, mas não é fácil quando se está na estrada e é vegano. O cardápio acaba sendo feijão, batata frita, banana e pão.

Dormem em motéis ou com pessoas que abrem suas casas.

Viajam por 37 estados.

Pela janela do carro, vê trens de carvão, poços de petróleo, fábricas abandonadas, rodovias de 16 faixas e shoppings center em todo lugar.

À noite, o céu é iluminado por inúmeras refinarias de petróleo, de norte a sul, de costa a costa. Além das poucas usinas eólicas e painéis solares, não há sinais de transição sustentável, apesar de ser o país mais rico do mundo. O debate está muito atrás da Europa.

Em um posto de gasolina no Texas, conta mais de 40 tipos diferentes de café. Também tenta somar o número de diferentes tipos de refrigerantes, mas perde a conta no 200. Nesse lugar, um homem mais velho com chapéu de cowboy vem até ela.

Sou um grande fã, diz ele, antes de atravessar o estacionamento, entrar em sua picape gigante e sumir na estrada, queimando combustível a céu aberto.

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