Fervura no Clima e uma ilustração de turbina eólica.

#FervuraNoClima

INSPIRAÇÃO PARA ENFRENTAR O AQUECIMENTO GLOBAL

Fervura no Clima e uma ilustração de usina termelétrica sendo desativada.

O Relógio
do Clima!
SAIBA MAIS

Rio de Janeiro, capital mundial do Meio Ambiente, e do Fervo

Mesmo se você vier de fora a única condição para você se tornar também carioca é amar o Rio. Eu, no caso sou um Parioca, dos originais vindos da Paraíba e não da leva secundária de Paris, outros apaixonados que têm basicamente uma colônia aqui, menor que a nossa é claro.

A Cidade Maravilhosa é dramática mas é unicamente incrível em vários aspectos, ela é onde o morro encontra o asfalto, a cidade, a floresta e o continente o oceano. O Rio é da cultura, e que cultura, da rua, da praia, do samba, bossa nova e funk, do sincretismo de São Jorge e Ogum e da boa sacanagem. O Rio é das montanhas e da Mata Atlântica, reflorestada por Dom Pedro II no, até hoje, ainda mais bem sucedido caso de recuperação ambiental de qualquer cidade no Brasil, a Floresta da Tijuca. Malandro que é malandro aqui sabe que o certo é não fazer malandragem, os trouxas que azucrinam os turistas e nos trazem má fama são os otários da nossa cidade. 

Sim, nossa, pois mesmo se você vier de fora a única condição para você se tornar também carioca é amar o Rio. Eu, no caso sou um Parioca, dos originais vindos da Paraíba e não da leva secundária de Paris, outros apaixonados que têm basicamente uma colônia aqui, menor que a nossa é claro. No Rio, 18% dos migrantes nordestinos são paraibanos. “Désolé, mais pas désolé mes amis.” 

O Rio é aquela cidade em que quando você está andando na rua e escuta passos te seguindo você corre tanto ou mais risco de um assalto do que em qualquer outra do Brasil mas é a única em que frequentemente você descobre também estar sendo seguido na verdade por uma mulher linda muito afim de te paquerar. O mesmo vale para as amigas e amigos de todas as preferências. No meu caso, preciso confessar, a mulher carioca anda de um jeito diferente, isso é fato. Parece algo fruto de uma mistura divina e carnal que imita o vai e vem do mar. As curvas da mulher amada e das montanhas lapidadas e verdes ficam gravadas nos seus olhos como disse Le Corbusier a Niemeyer. Ah Rio, como eu te amo.

Aqui, você só não pode se enganar, dar bobeira. Você não pode viver só “olhando para o mar e de costas para a favela” como diria Planet Hemp na voz de Marcelo D2. A desigualdade aqui grita e é visível em todos os lugares. Sim, infelizmente, em muitos lugares como o Jacarezinho, Complexo do Lins, Zona Oeste e Baixada Fluminense ainda “Sarajevo é brincadeira, aqui é o Rio de Janeiro” para citar de novo essa grande banda. A guerra urbana de calibre militar sufoca e mata, o apartheid informal gritante assim como o extermínio do povo preto é estrutural e precisa ser acabado antes de sangrar de vez o nosso povo. Em cada tragédia vejo meu avô, José Francisco Fernandes, negro nordestino Bantu nigeriano-congolês e o maior homem que já conheci, mas para os “Inocentes do Leblon” de Drummond basta passar o protetor solar e tudo passa. Não podemos continuar assim. 

Podemos e devemos passar o protetor solar, curtir nossa praia, apavorar no carnaval entre o Belmonte e o Jobi e podemos até morar no Leblon mas temos de viver e lutar pela cidade como um todo. Por sua integração urbana, por oportunidades iguais e uma vida digna para todos, principalmente o povo forte e brilhante das favelas que são os que mais sofrem e mais dão à cidade todos os dias a fazendo mover, inovar e crescer. A favela não é um problema, ela é um povo. Não é preciso ir morar numa favela como fiz indo abrir meu estúdio e fazer minha vida no Vidigal, a rainha do castelo chamado Rio de Janeiro. Entretanto, é preciso lutar pela igualdade de direitos e serviços públicos para todos na nossa cidade. É preciso valorizar a educadora de líderes Lúcia Cabral do EDUCAP no Complexo do Alemão, Mauro Quintanilha no Vidigal, meu chapa do movimento Cidade Unida Raull Santiago e o prodígio René Silva, crias do Alemão e que são do mundo hoje, assim como Edu Carvalho, orgulho da Rocinha, e o grande educador ambiental de todo Rio mas cria do Parque da Cidade, Urso Santos. É preciso apoiar nossa vereadora negra, feminista e urbanista Tainá de Paula, herdeira de Marielle Franco na Câmara de Vereadores mais perigosa do Brasil, e tod@s guerreiros e guerreiras da Zona Sul, Norte e, muito, da Oeste, semi-rural e que sofre sob o júdice do estado paralelo miliciano.  Não podemos esquecer também da galera da Baixada, parte de facto da Cidade Maravilhosa e porque não também de toda Baía de Guanabara que um dia será sem dúvidas toda conurbada, ou termos coloquiais urbanizada e pegada.

É preciso se integrar, se organizar e agir com as pessoas e também com a natureza, tão forte aqui apesar de tão maltratada. No Rio, diferente de São Paulo, o homem não conseguiu passar por cima da natureza. A topografia da cidade e seu bioma natural são muito dramáticos e presentes para que a primeira versão do modernismo passasse por cima dela. Como bem apontou o historiador e urbanista Michael Berman no seu brilhante livro “Tudo que é sólido desmancha no ar”, a versão infantil/adolescente modernista causou muitos estragos pelo mundo como vemos na colcha de retalhos e sufocamento dos rios em São Paulo, ou na colocação de vias automotivas nas partes costeiras de Manhattan em New York, mas no Rio apesar de tudo ela falhou no seu projeto de dominação. Ainda bem, porque assim poderemos desenvolver uma nova versão de modernidade em harmonia com a natureza e onde o desenvolvimento sirva ao homem e a natureza e não o contrário. 

É nesse sentido que é importante lembrar que 2022 marca os 30 anos da Eco 92, marco do movimento ambientalista mundial que iniciou uma segunda fase na luta ambientalista com a criação do UNFCC, que deu origem ao IPCC-ONU, após a fase iniciada no ano de 1972 com a Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente Humano em Estocolmo na Suécia. O Rio realizará neste ano a Rio+30, resposta organizada pela Prefeitura liderada por Eduardo Paes e pelo C40, o grupo das 40 maiores cidades do mundo apoiadas principalmente pela Bloomberg Foundations, do bilionário ex-prefeito de New York Michael Bloomberg, contra o descaso e a destruição ambiental do governo Bolsonaro. 

Importante movimento, desde que em tempos normais a próxima COP que será no Cairo no Egito em Novembro seria provavelmente aqui e em um formato muito maior devido aos 30 anos da Eco 92. Assim, o que precisa ser feito para que o Rio e a Rio+30 marquem uma nova fase de desenvolvimento mais sustentável, integrado e resiliente para nossas cidades, territórios e florestas por todo o mundo mas principalmente pelo mundo majoritário, América Latina, África e Ásia? 

É preciso focar em soluções, integrar classes sociais, expertises, regiões e gerações e definir uma estratégia de avanço colaborativo entre as próprias cidades como defesa aos riscos de líderes ineptos nos níveis federais e estaduais, pois a Emergência Climática não pode esperar. É preciso também discutir novos pactos federativos e unitários onde as cidades possam ter mais recursos e mandatos políticos para agir, pois as pessoas vivem, sofrem e sonham nas cidades e é nelas que os impactos climáticos e pandemias são enfrentados, por exemplo. 

Que a oportunidade seja aproveitada e que o Rio de Janeiro se torne de vez a capital mundial do Meio Ambiente, se tornando exemplo de superação da Emergência Climática e quem sabe até com sede da ONU sobre Resolução Climática aqui. Uma coisa é certa, para que isso aconteça essa luta tem que ser contagiante como o fervo de uma boa festa mas isso meus amigos o Rio tem para dar e vender. E aí vamos fazer acontecer? É hora de entrar no clima.

 

Pedro Henrique de Cristo, Coordenador do NAVE – Novo Acordo Verde, polímata, é professor-visitante de políticas públicas, desenho urbano e arquitetura na Universidad Eafit-Urbam, em Medellín, e na Universidad Diego Portales (UDP), em Santiago. MPP’11 Harvard Twitter: pedrohdcristo Instagram: Pedro Henrique de Cristo  

Assine nossa Newsletter

Nós Não Enviamos Spam!

    Parcerias

    aceleração

    You don't have permission to register