Por Matthew Shirts :: Arte Caco Galhardo
Imagine por um momento que você soubesse de tudo isso, da Covid-19, do cancelamento dos vôos, das mortes e dos hospitais abarrotados, do distanciamento social, do sofrimento obsceno dos doentes – antes de acontecer. Quanto antes, você pergunta? Digamos que um ano, dois ou quiçá mesmo dez. O que você faria com o tempo que lhe restava de normalidade anterior à crise? Como agiria diante da certeza de que, mais cedo ou um pouco mais tarde, chegaria o dia que transformaria tudo? Você tomaria uns tragos a mais no boteco? Diria para aquele garoto que o ama? Deixaria de ir na academia ou se dedicaria mais à ginástica? Compraria um estoque de álcool gel e máscaras? Faria de tudo para avisar parentes, amigos e a sociedade mesmo correndo o risco de ser taxada de louquinha?
Pois é esta a situação dos climatologistas, os cientistas do clima, aqueles que dedicam a vida a entender o que acontece com o sistema climático do planeta Terra. Tal como os estudiosos de pandemias, entre eles o hoje famoso Átilo Iamarino, os climatologistas sabem que nossas vidas vão mudar. Sabem disso há décadas, embora não tenham certeza de quando, não exatamente. Mas já viram os primeiros sintomas. Disseram que o tempo iria esquentar, dizem isto há muito tempo, e não é que os últimos cinco anos, de 2015 a 2019, foram os mais quentes da história? Isto é perigoso? Sim, é muito perigoso porque é cumulativo. Só piora.
Os estudiosos do clima já chegaram à conclusão de que não dá mais para evitar uma crise de impacto forte em todo o mundo. Esta é a má notícia. Os furacões serão cada vez mais fortes e perigosos. As chuvas serão mais intensas, as secas, também. O nível do mar vai subir e começar a invadir diversas cidades ao redor do planeta, como Nova York, Recife, Rio de Janeiro e Miami, sem falar de Caraguatatuba. No estado da Flórida, algumas cidades já inundam regularmente. A temperatura média da Terra continuará a subir e não deve parar tão cedo, talvez nunca, aliás, se a gente – a gente no caso é a humanidade – não tomar providências. Haverá outros impactos também, mas falemos deles mais adiante, em outro texto.
A boa notícia é que os cientistas, engenheiros e ativistas têm já muitas soluções e ideias claras para ajudar a humanidade a se esquivar do pior. Muitos daqueles que souberam antes dessa catástrofe iminente se dedicaram ao longo das últimas décadas a montar planos para enfrentá-la.
Tal como acontece com a Covid-19 não dá mais para evitar uma crise – neste caso, a do clima. Mas como os cientistas já sabem faz tempo que ela irá acontecer, mapearam as melhores maneiras de enfrentar a tempestade. Para começo de conversa precisamos parar de queimar carvão, gasolina, gás e óleo diesel – o quanto antes. Comer menos carne ajudaria também, tal como plantar mais árvores. No Brasil, o mais importante é preservar a Floresta Amazônica. Mas o mais urgente mesmo, mundialmente, é parar de queimar os combustíveis chamados fósseis (da lista acima). São eles os principais responsáveis pelos gases de efeito estufa que estão aquecendo o ar e os mares e todo o sistema climático do nosso planeta.
Por que não disseram antes?
Avisaram, como também veremos mais adiante. Esta crise é cantada em verso e prosa e filmes e mídia social há décadas. Em 1988, o diretor da NASA, James Hansen, explicou tudo para o Congresso dos Estados Unidos em um evento público que ganhou destaque na primeira página do New York Times. Não é nenhum segredo. Mas os poderosos, capazes de tomar medidas contra a crise do clima, não quiseram ouvir ou fizeram pouco. Muitos políticos, como os presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro, tentam ainda hoje negar a existência da crise climática, igualzinho fizeram quando a Covid-19 se manifestou.
Eles e outros “negacionistas” são financiados pelas indústrias de carvão, petróleo e gás. Estas, as principais responsáveis pelo aquecimento global, gastaram bilhões de dólares na produção de desinformação, de notícias falsas, campanhas políticas e pesquisas duvidosas. Todo este dinheiro foi investido para fazer com que você e seus pais e seus tios e seus amigos duvidassem da gravidade da crise do clima.
Infelizmente, a crise climática já começou a mostrar seu poder devastador. Tal como acontece com a pandemia de Covid-19, não dá mais para esperar. Não se mexe com o clima terrestre impunemente. Os cientistas sabem disso. Chegou a hora, já passou a hora, aliás, de ouví-los.