Vimos por meio desta pedir desculpas a você, prezado Tubarão da Groenlândia, morador da face norte desse condomínio chamado Terra. Sabemos que, ao contrário do Tubarão Tabagista, do Tubarão Sedentário e do Tuberão Operador da Bolsa de Valores, a sua expectativa de vida é alta, beirando os trezentos anos. E confessamos que não fizemos nenhum planejamento ou fundo de obra para tão longa estadia.
Também sabemos que a piscina oceânica na qual você dá suas braçadas tem esquentado. E também derretido: a Groenlândia tem perdido 1 milhão de toneladas de gelo por segundo. Segundo o último relatório do IPCC, os oceanos devem subir dois metros até o fim desse século e cinco metros até 2150, quando você ainda será um predador de meia-idade, com muito krill e check up anual pela frente.
É trágico, mas pelo menos você não estará sozinho. Amêijoas e baleias, outros longevos coroas que chegam a dois séculos de idade, também estarão vivos para contar de um tempo em que as águas banhavam multi-coloridos corais, e não obeliscos de sacolas plásticas e canudos. E o que dizer daquelas condôminas do Caribe, as esponjas gigantes que vivem mais de dois mil anos? Talvez essas tenham sorte. Se sobreviverem ao cozimento em fogo baixo, verão o homem se transformar ou se extinguir, e a vida se reiventar mais uma vez com sua teimosa beleza.
Que seus netos estejam aqui para ver.
