Quem atravessaria uma das maiores catástrofes da história usando apenas um olho? Foi mais ou menos isso que o Reino Unido fez ao montar uma comitiva formada apenas por homens para a COP26 – o evento mais importante da década para a crise climática, onde serão definidas metas mundiais para os próximos anos. Talvez a escolha do time masculino nem tenha sido de propósito, mas a ausência de mulheres acende o alarme para uma discussão faiscante.
Se a inclusão delas é fundamental em qualquer contexto, no combate à crise climática é ainda mais. Serão as mulheres as mais castigadas pelos efeitos do clima. A pandemia já provou isso: a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Com o vírus as mulheres perderam o emprego e passaram a sofrer mais violência doméstica. Com os efeitos da crise climática, não vai ser diferente. Serão elas, os negros e as populações dos países mais pobres que vão pagar a conta. Isso já seria suficiente para que as garotas sentassem na ponta de mesa, mas não é tudo. Elas têm muito a acrescentar, já que sempre foram mais envolvidas com questões comunitárias e solidárias, agricultura familiar e até democratização de sementes. Sem falar que muitas também são excelentes cientistas.
Como diria Bianca Pitt, do movimento She changes climate, reunir apenas homens na COP 26 é atravessar a tempestade usando apenas um olho. A frase surtiu efeito: os caolhos ingleses já abriram os olhos e as cadeiras para elas.
Texto de Giovana Madalosso