Esses dias li que olhar para o horizonte acalma e faz bem para a saúde. Numa pesquisa rápida, também descobri que fazer pausas para contemplar essa linha relaxa os músculos ciliares, descansando os olhos. Talvez por isso tanta gente busque, mesmo sem perceber, seu horizonte particular: um apartamento com vista, uma casinha no campo, uma escapada para fitar o litoral. Ou mesmo um horizonte a óleo, pregado nas paredes cegas de alvenaria.
O poder do horizonte extrapola o sentido figurado. Precisamos de algum para viver ou, ao menos, para viver bem. Talvez por isso tenha sido tão difícil atravessar a pandemia no Brasil. Todos os dias abro a janela e procuro um horizonte que nunca consigo enxergar. Já nem me importaria que fosse distante, um sol brilhando opaco e dizendo: sua vacina só sai em julho. É longe mas eu me programaria, ganharia o direito de sonhar com abraços em agosto, porres coletivos em setembro, quem sabe uma viagem além-fronteira em outubro.
Mas não sabemos de nada. Tudo o que sabemos é que cada horizonte desenhado com dedicação pelos movimentos sociais e pelos defensores do sol para todos é apagado pouco a pouco todos os dias, como se fôssemos Sísifo carregando ladeira acima uma pedra de giz. É cansativo mas maior do que nós: nunca desistimos de ver o dia nascer melhor.
Giovana Madalosso escreve para o Fervura toda semana. É autora dos romances Suíte Tóquio e Tudo pode ser roubado e do livro de contos A teta racional.