De volta a baila com a COP30! Direto da Amazônia, na terra do Tacacá e do carimbó!
É impossível não falar disso! Mas talvez só se fale de outra coisa por ai… vai saber…
A Torta volta para contar um pouco dos bastidores, teremos Climão Social com fotos das presenças ilustres desta COP, dicas do que ler, ver e ouvir para ao menos tentar entender o que está acontecendo em Belém, e o que mais acontecer por aqui.
De primeira indico um livro para quem quiser se aprofundar no assunto. Recomendo o “Guia para perplexos” publicado pelo Observatório do Clima e La Clima: Acordo de Paris: um guia para os perplexos – Observatório do Clima Nele tem tudo que você precisa saber sobre COP e mais um pouco. Só baixar! Tem inclusive a gigantesca lista as tais siglas que tornam tudo ainda mais confuso. Mas imagino que se você leu ou viu algum jornal nos últimos dias ouviu falar pelo menos das tais NDCs. – Contribuições Nacionalmente Determinadas, que será repetida a exaustão nos próximos 15 dias.
Chegar aqui não foi fácil, foi mais de um ano de trabalho, na última hora até o avião foi trocado com passageiros quase embarcados, trocaram o portão também, no meio da confusão vi três americanos perdidos porque não falavam português, decidi ajudar, depois descobri que eram lobbystas do petróleo. Devia ter deixado perderem o voo, enfim.
Eu sei, eu sei… Torta de Climão sumiu por um tempo pois a que vos escreve assumiu outras funções nesta luta pelo clima. Mas aqui estou porque é necessário falar sobre COPs! A luta não para nunca.
Cartas ao futuro que (quase) não existe mais
Mas antes de começar um comentário sobre o que viemos fazer aqui.
Todas as COPs tem uma autoridade que é escolhida como Presidente-Designado, pois a área do evento é considerada terreno internacional, para entrar tem que ter passaporte, é sério! E Belém do Pará neste momento é a capital federal do Brasil. Curioso, né?
Pois o presidente-designado da COP30 é o talentoso embaixador André Aranha Corrêa do Lago escreveu belas cartas e em sua décima e última carta à comunidade internacional da 30ª Sessão da Conferência das Partes (COP30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) o embaixador fala sobre os “quase”.
“Estamos quase lá. Quase lá – ao nos prepararmos para abrir juntos a COP30 em Belém. Quase lá – com o Livro de Regras do Acordo de Paris completo e seu ciclo de políticas em movimento, prontos para uma implementação acelerada. Quase lá – enquanto a ambição global finalmente começa a curvar a trajetória das emissões e a transição climática se torna uma tendência irreversível. Mas “quase” não é suficiente. Precisamos ir mais rápido – para alcançar cada país, cada comunidade, cada membro da nossa família humana antes que impactos climáticos mais severos o façam”, escreve Corrêa do Lago.
Pois, enquanto lia isso, fiquei pensando nos “quases”… no quanto Porto Alegre quase desapareceu embaixo d’água em maio de 2024, nos rios que quase secaram totalmente parando a Amazônia em setembro do mesmo ano, em quantas casas o mar já quase levou porque está subindo… em quantas espécies de animais quase sumiram já devido a destruição de seu habitat natural (algumas sumiram mesmo)… quantas ilhas já estão quase desaparecendo… a cidade do Paraná que quase desapareceu varrida por um incomum tornado… Quantas vezes quase fizemos algo de realmente concreto para evitar essas coisas todas?
Entrar em um consenso entre autoridades de mais de 190 países é quase impossível, mas podemos fazer escolhas melhores, no entanto, não se deixe enganar, elas são mais coletivas do que individuais. Reciclar o lixo, quase ajuda, mas mudar as leis e os parâmetros do que é desenvolvimento é que vai mudar este caminho de verdade e é para isso que estamos aqui.
Espero que a COP no Brasil encontre o caminho do rio para o mar, “onde a humanidade recomeça” tal com diz Lago em sua carta. Esta é a primeira COP na América Latina, dentro de uma floresta, com maior presença indígena da história. A maioria deles nem poderá entrar na famigerada área azul onde as tais NDCs são realmente decididas, mas as autoridades no mínimo irão sentir o calor no cangote e a presença dos povos indígenas. Quem sabe isso faz diferença?
Muito do que foi decidido nas últimas 30 COPs nem saiu do papel. Pouco realmente virou prática, mas, uma vantagem as conferências tem, se nada mais der certo e não conseguirmos parar as mudanças climáticas, pelo menos deixamos tudo bem documentadinho. Como cartas ao futuro que não existe mais. Podemos escrever bem no final da última última carta “quase deu certo, nossa intenção nunca foi acabar com as possibilidades de uma boa vida para vocês, abraços das gerações anteriores. Beijinhos”.
Eu juro que estou tentando ser otimista, mas é tão difícil quanto decorar todas as siglas da COP. Tomara que a Amazônia transforme as coisas e que o rio se torne mar, bem vinda COP30, que vá além dos quases.
Por fim, deixo só uma questão para pensar na cama:
O homem já mandou milhares de satélites ao espaço, viajamos além das fronteiras de nosso sistema solar, encontramos planetas, cometas, luas… encontramos milhares de elementos químicos, minerais e gases que também existem na terra, encontramos água. Mas sabem o que NÃO ENCONTRAMOS até hoje? Madeira, árvores, florestas! Nada, nem nada quase perto disso.
